Na Bahia, pacientes com diagnóstico da doença relataram a ingestão de mortadela de frango na véspera do dia em que apresentaram os primeiros sintomas
Por Livia Veiga
A Vigilância Epidemiológica da Bahia confirmou, nesta quarta-feira (25), o sexto caso de botulismo registrado este ano no estado. Dos pacientes que manifestaram a doença, três permanecem hospitalizados, um teve alta médica e dois vieram a óbito.
Os casos foram notificados em Campo Formoso, Senhor do Bonfim e Ribeira do Pombal. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), uma morte foi registrada pela doença no estado e esse era o único registro até 2023, quando dois casos da doença foram confirmados no município de Feira de Santana.
A coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da Sesab, Eleuzina Falcão, detalhou as ações que o Estado a vem implementando para prevenir a doença e explicou que o botulismo é uma doença rara. “Diferente das doenças endêmicas que ocorrem com maior frequência na população, um caso já é considerado surto”, explica.
Conforme o Ministério da Saúde, o botulismo é uma doença neuroparalítica grave, rara, não contagiosa, causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum (C botulinum). O agente etiológico entra no organismo por meio de ferimentos ou pela ingestão de alimentos contaminados que não têm produção e/ou conservação adequada, fator responsável pela maioria dos casos da doença notificados no país.
Na Bahia, pacientes com diagnóstico da doença relataram a ingestão de mortadela de frango na véspera do dia em que apresentaram os primeiros sintomas. Segundo a Sesab, no processo de investigação que foi realizado através de prontuários, visitas domiciliares e até entrevista com pacientes, foi verificado que, nos casos, houve uma fonte comum de alimento.
“Então, a gente precisa ficar atento ao conjunto de sinais. Normalmente, no caso da ingestão de alimento com essa toxina, a pessoa apresenta uma paralisia aguda flácida, é uma paralisia simétrica, ela ocorre dos dois lados descendentes e apresenta um nível de consciência mantido e um ou mais desses sintomas. Então, pode ter uma visão turva, uma diplopia, que é quando você vê duas imagens, pitose palpebral, que é a queda da pálpebra. Também tem relatos de boca seca, dificuldade de articular as palavras, dificuldade de deglutir, aliado a outros sintomas neurológicos”, detalha Falcão.
A pasta orienta que ao suspeitar da doença, a população procure a unidade de saúde, pois a equipe de profissionais da rede está preparada para notificar e para diagnosticar os casos. Isso porque, ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a doença pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.
Outras complicações podem decorrer da enfermidade, como a dificuldade para falar, dificuldade para engolir, fraqueza de longa duração, fadiga, pneumonia por aspiração e infecção, problemas no sistema nervoso em geral. Portanto, a Sesab orienta acerca dos cuidados com relação ao consumo de produtos industrializados.
Eleuzina Falcão explica que prazo de validade dos produtos, presença de certificação de qualidades, condição da embalagem (latas estufadas) e vidros embaçados devem ser pontos de atenção. “Nesses casos, não consumir de jeito nenhum e é importante sempre ferver, pelo menos por dez minutos, esse tipo de produto”, orienta.
Segundo ela, produtos reembalados, fracionados, merecem atenção especial. “É importante que tenha ali o lote, que tenha a data de fabricação, a data de validade também, porque não é incomum encontrarmos esse tipo de produto somente com a proteção de filme, mas sem trazer nenhuma informação”, alerta a coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da Sesab.
O Ministério aponta que a contaminação por botulismo é comum em conservas vegetais (principalmente as artesanais, como palmito, picles, pequi), produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura); pescados defumados, salgados e fermentados; queijos e pasta de queijos; e de maneira mais rara, alimentos enlatados industrializados.
Tribuna/Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil